Sem visitas
Homem tem entrada proibida no HE-UFPel e busca visitar mãe internada
Restrição foi imposta após episódio de descontrole de filho que clamava por atendimento médico; caso chegou ao conhecimento da Câmara na quarta-feira
Carlos Queiroz -
Preocupação e impotência. Esses são os sentimentos que Osvaldo de Souza descreve ao ter sido proibido de visitar a mãe, Geneci de Souza, que está internada no Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel), desde o último dia 3, devido a um tumor no abdômen. Em razão de um episódio de descontrole verbal ocorrido dentro da instituição e um Boletim de Ocorrência Policial registrado, o filho não vê a mãe há quase 15 dias.
Agente Comunitário de Saúde de Pelotas, Souza, de 27 anos, é filho único e teme pela saúde da mãe. De acordo com seus relatos, Geneci começou a sentir fortes dores abdominais, inchaço e mal-estar no dia 1º de outubro. Ao procurar atendimento no Pronto-Socorro (PS), foram informados que devido ao caso não representar urgência, ela seria encaminhada à Unidade de Pronto Atendimento (UPA Areal). Na Unidade foram realizados diversos exames e ao ser constatada uma anemia grave, a costureira foi transferida novamente ao PS e posteriormente levada para o HE-UFPel.
Ainda conforme o agente, após quatro dias internada no Hospital Escola, apresentando piora do inchaço no abdômen e com fortes dores, na tarde de 6 de outubro, ao encontrar a mãe se queixando de dor intensa na região dos pulmões e dificuldade para respirar, o filho foi ao posto de enfermagem solicitar atendimento médico. "Relatei às enfermeiras essa piora dela e pedi por favor que chamassem o médico para vê-la e para nos falar sobre o resultado do exame e a situação de saúde dela", conta.
Após uma profissional dizer que o médico não poderia ver Geneci naquele momento, Osvaldo diz que foi tomado por angústia e começou a gritar pedindo por atendimento imediatamente. "Fui tomado pelo desespero, me ajoelhei e clamei a todos que ali estavam, que chamassem o médico para salvar minha mãe. Gritei, em desespero, que não sairia dali enquanto não aparecesse um médico para nos ajudar", relata. Devido ao descontrole verbal frente aos profissionais de saúde, ele diz que foi encaminhado a uma sala do HE, onde a Brigada Militar realizou o Boletim de Ocorrência por ameaça.
A partir do registro da ocorrência, ele foi informado que estava proibido de entrar nas dependências do hospital e consequentemente de visitar a mãe. "Eu entendo o lado do HE, entendo que as enfermeiras tenham se assustado e se sentido ameaçadas. Eu respeitei a decisão, esperei durante sete dias, pois achava que o tratamento dela [mãe] teria andamento", conta.
Uma semana depois, no dia 13, Souza solicitou à Ouvidoria a permissão para visita e foi informado que teria que escrever uma carta pedindo desculpa e se comprometendo a não repetir o comportamento. No entanto, após entrar em contato novamente com a Ouvidoria, nesta terça-feira, ele recebeu a resposta de que a análise poderia ser feita em até 10 dias. Até o momento o HE ainda não retornou com resposta sobre o pedido.
Por se tratar de um caso grave, o pai de Osvaldo, Paulo Souza, 59, passa longos períodos cuidando da esposa. Geneci, 54, necessita de ajuda para levantar da cama e para outras atividades básicas como tomar banho. Com a internação, a família está com o orçamento comprometido, já que o casal está impedido de trabalhar. Neste momento, a renda se restringe ao salário do filho.
Preocupação
Em razão da experiência da profissão também na área da saúde, o agente comunitário conta que, ao notar o quadro da mãe piorando rapidamente e o diagnóstico de um tumor, está extremamente preocupado, temendo a demora do tratamento e as consequências que sabe que podem ocorrer. "Eu sinto que o problema dela é muito grave e se nada for feito logo, não vai ter muita esperança", afirma.
Souza conclui explicando que deseja duas coisas. A primeira é visitar a mãe. A segunda é que o tratamento seja iniciado em breve. Após uma cirurgia, em que não foi possível a retirada total do tumor, Geneci agora aguarda a realização de uma biópsia para o tratamento com quimioterapia ser iniciado.
Pauta na Câmara
Na sessão ordinária desta quarta-feira (19), uma carta com os relatos e pedido de ajuda de Osvaldo Souza foi lida na tribuna pela vereadora Fernanda Miranda (PSOL). Ainda de acordo com a parlamentar, o documento foi encaminhado à Comissão de Saúde da casa para análise do caso.
Posição do HE
Conforme a assessoria de imprensa do Hospital Escola da UFPel, o caso está sendo analisado pela direção em conjunto com a Ouvidoria e o Setor Jurídico. O HE afirma que Souza irá receber resposta sobre a solicitação de visita nos próximos dias.
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